terça-feira, 22 de julho de 2008

A bailarina vermelha

Degas


A bailarina vermelha

Judith Teixeira

Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir...

Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca - romã luzente,
a refulgir!...

As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida...
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!...

Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis...
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris...

Um jeito mais quebrado no andar...

Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás...

E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!...
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas... desgrenhadas!...

Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor...

E nos seus braços endoidecem
as anilhas d'oiro refulgindo
num feérico clamor!...

E ela passa...

Fulva, esguia, incoerente...
Flor de vício
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!...
Como uma brasa ardente,
enfernal e dolorosa,
... a bailar...

a bailar!...

Noite
1925



Judith Teixeira

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