quinta-feira, 31 de julho de 2008

Conversa com Carpinejar



No final da apresentação de "O dom do ciúme", em que o blogueiro Fabrício Carpinejar fez importante participação, pudemos discutir com esse genial escritor do Rio Grande do Sul a importância do blog para a produção literária dele.
De acordo com o poeta gaúcho, pelo blog ele soube lapidar sua escrita, torná-la "simples", no sentido de achar um meio de expressão adequado, de leveza precisa, para os assuntos abordados por ele. Também nos disse que, em seu blog, ele tem a facilidade de produzir mais as suas crônicas do que seus poemas. Portanto, a sua página pessoal, serve-lhe como um espaço de testemunho de sua vida, de sua memória.
Carpinejar falou sobre a humildade que o blog o obrigou a ter: escrever fácil, postar sempre, superar a ansiedade de ver nenhum comentário chegando... por bom tempo.
Disse para a gente que o blog é o espaço para o trabalho de textos que estão rolando no trabalho do escritor - e que assim não se corre o risco da falta de assunto.
Os alunos do nosso curso puderam lhe fazer inúmeras perguntas. Enfim, foi um momento muito especial, pelo qual pudemos aprender um pouco mais sobre a escrita no universo dos blogs.
Alexandre e Susana

terça-feira, 29 de julho de 2008

(Im)possível Pasárgada

Tantas vezes em nossos encontros discutimos os conceitos de autoria e também falamos sobre "citações", "diálogos", "intertextos" na literatura e na arte. Ninguém cria do nada, mas os níveis de diálogo são muito variáveis.
Uma questão do Paulo Neuman nos levou a pensar na Pasárgada de Manuel Bandeira. Na ocasião eu contei sobre os diálogos com o poema de Bandeira "Vou-me embora prá Pasárgada" em território cabo-verdiano.Cabo Verde, arquipélago marcado pela seca permanente, de onde se é forçado a partir. Neste contexto, Pasárgada ganha outros contornos... Abaixo, uma dessas "respostas" cabo-verdianas à evasão sonhada por Bandeira:


ANTI-EVASÃO

(Ovídio Martins)

"Pedirei
Suplicarei
Chorarei

Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue

Não vou para Pasárgada

Gritarei
Berrarei
Matarei

Não vou para Pasárgada"


Comentários?
Susana

"Biblioteca em Fogo" (1974)

Mudei agora a fotografia que aparece por trás do título de nosso blog. "Biblioteca em Fogo" é um quadro da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, terminado em 1974. Penso que é um bom símbolo do cruzamento de linguagens tão importante para o Blog.Vieira da Silva fez uma série de pinturas em que as bibliotecas são o tema central - prova da importância dos livros para a vida desta que foi uma das maiores artistas plásticas do Século XX.
O que vocês acharam da escolha?
Susana

domingo, 27 de julho de 2008

Fim do curso - Alexandre e Susana bem felizes!



Acabo de receber do Alexandre esta foto - nós dois muito felizes, no saguão do SESC no final do curso. Foi um real prazer este trabalho. Acho que,neste caso, a imagem diz tudo. Vamos escrever mais e prosseguir com o Blog, claro, mas por hoje acho melhor que a foto fale.
Susana

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Convite para Rodas de Leitura em Agosto




No Rodas de Leitura de Agosto vamos receber a escritora Marina Colasanti em 06 de agosto para um bate-papo recheado de boas histórias. Na semana seguinte, 13 de agosto, vamos juntos ler textos selecionados e discutir a obra multi-facetada da autora.
Sempre às 20 horas no segundo andar do SESC Pinheiros. GRÁTIS.
Peço a todos que venham e divulguem para seu grupo de amigos - não podemos perder essa!
Susana

O Dom do Ciúme - Sexta aula do curso Blogs Literários



Não resisto a começar hoje a refletir sobre o espetáculo de ontem à noite no SESC Pinheiros, "O Dom do Ciúme".
Fomos todos os da turma do Curso Blogs Literários assistir ao "Sarau/show/aula" - como se queira chamar o espetáculo - que uniu em diálogo música, literatura, performance e arte gráfica.
Foi um GRANDE fechamento para nosso curso pelo clima que senti do grupo.Para mim foi ESPECIAL.
"Dom Casmurro" revisitado de uma maneira inovadora e moderna foi uma experiência muito produtiva.
Como o nosso grupo é bem misto, as pessoas curtiram os vários aspectos da apresentação: o trabalho gráfico, projetado em telão, a música, a leitura dramática feita pelos escritores, a performance. Apresentou-se, em realidade, a oportunidade para vermos em exercício o cruzamento de linguagens que é tão importante para o Blog e que já tínhamos discutido.
Ao final, fomos todos conversar com o Carpinejar, que bateu um papo com a turma toda, falou do Blog em geral, respondeu às nossas questões (o Alexandre vai sintetizar um pouco nossa conversa e postar para a gente).
Não quero monopolizar o relato. Por favor, postem comentários para eu poder montar um painel com a opinião de todos, tá bem?
Susana

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Quinta aula no SESC Pinheiros



Ontem à noite nos reunimos no SESC Pinheiros para nossa quinta aula. O Alexandre e o Paulo voltaram!!! Viva! Mas, em compensação, a Ângela não esteve conosco.
Começamos na nossa mini-sala de aula um bate-papo em roda. Foi muito bom. O Alexandre trouxe exemplares de seu primeiro livro "Biografia do Deserto".
Lemos dois poemas: "O cavalo amarelo" e "Franca". Ouvimos histórias sobre a criação dos poemas, as circunstâncias que cercaram esta criação.
Na esteira, começamos a discutir de novo autoria na era digital ou não e procedimentos como "citação", "intertexto" e as diferenças entre isso e plágio propriamente dito.
O Alexandre nos contou sobre a feitura do livro em si e sobre o blog que mantinha na época e que não existe mais, o "Arqueologia dos acasos" (que título lindo!!!!).
Para o nosso curso, o Alexandre meio que remontou o antigo blog no "Biografia do Deserto", que visitamos já nas primeiras aulas.
Recebemos então, a visita de dois amigos-blogueiros do Alexandre.
A partir daqui, deixo para o Alexandre postar a continuação da aula.
Susana.
Os blogueiros André Setti e Felipe Stefani, ambos poetas, nos apresentaram o blog deles, o "Cultuar". Vimos várias imagens, vários poemas. Os alunos de nossa oficina fizeram perguntas. Pudemos ver a importância do blog como meio de divulgação da arte e da poesia.
Alexandre.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sugestões de navegação...para hoje ou para qualquer outro dia

Conversamos ontem - começamos pelo menos - sobre sites legais para a gente visitar quando se deseja saber mais sobre a literatura.
Selecionei algumas sugestões de lugares confiáveis para se buscar textos e informações:
No "Portal de Domínio Público" - http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp estão obras literárias (e não só) que estão em "Domínio público", ou seja, cujos autores já estão mortos há mais de 70 anos e que podem ser livremente reproduzidas. Ali a gente pode, por exemplo, buscar a poesia de Fernando Pessoa, os contos de Machado de Assis ou as peças de teatro de Gil Vicente (dá para baixar o texto completo no formato pdf, gravar e ler em casa com calma, ou consultar quando se precise)

No "Projeto Vercial" se encontram referências exclusivamente da literatura portuguesa - http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/vercial.htm


Já o "Projeto Releituras" complementa ambos, com muitos textos explicativos sobre os "clássicos", especialmente aqueles presentes nos exames vestibulares - http://www.releituras.com/releituras.asp

Vamos tentar?

Susanna

Mini-mini-curso de literatura africana de língua portuguesa em 3 poemas

Como tínhamos combinado no final da quarta aula, sugiro a visita a três poemas do site "Do Rovuma ao Maputo".
O "tour" contempla um poeta de Moçambique, uma de Angola, um de Cabo Verde, em visões que valem por um mini-mini-curso.
Para se aproximar...
Aí vai:

Rui Knopfli – Moçambique - “Naturalidade”

Alda Lara – Angola – “Presença Africana”

Armênio Vieira – Cabo Verde - “Mar”


Vamos navegar?

Susanna

Quarta aula no SESC Pinheiros



Nessa aula não contamos com o Alexandre (e nos fez uma falta imensa).
Em compensação, recebemos uma visita, a da blogueira Ana Acquesta, "dona" do blog simplesmenteverso.blogspot.com.
A Ana teve uma conversa bem legal conosco sobre sua já longa relação com a internet e seu ainda recente envolvimento com os blogs.
Navegamos pelo blog dela e trocamos muitas idéias.
Continuamos a nossa discussão sobre a autoria nos tempos atuais, a partir da leitura proposta para o final de semana, o artigo "Cadê o autor?" da Revista E do mês de julho de 2008.
Pois é, no caso do escritor que pesquisou vários blogs para compor um romance, as opiniões foram diversas: tinha de colocar créditos, não tinha que colocar créditos.
Experiências várias no que diz respeito a autoria e a sensação terrível de se sentir "roubado" ou "copiado" surgiram no decorrer da aula.
Não sei se estou certa, mas acho que, por fim, a conclusão mais ou menos geral é COLOQUEM CRÉDITOS!!!!!!SEMPRE!
Dentro do papo com a Ana acabou aparecendo o quanto a sociedade ainda precisa mudar com relação ao trabalho criativo em geral e ao trabalho criativo das mulheres em particular.
Acabei me lembrando do famoso texto da Virgínia Woolf, de 1926 - "Um quarto todo seu", em que a constatação de que às mulheres historicamente faltou um quarto de trabalho onde pudessem construir algo.
Será que alguém encontra este texto ou trechos dele para a gente colocar no blog?
Ainda vimos o resultado - em papel - do concurso de contos proposto pelo Estadão em homenagem aos 50 anos da Bossa Nova - encarte que foi publicado no dia 19 de julho.
E comparamos com a iniciativa de um dos "perdedores" do concurso - a montagem do blog contodesclassificado.blogspot.com.
Visitamos, lemos um pouco cá, um pouco lá e colocamos na roda de discussões qual das manifestações - o encarte ou o blog - tende a durar mais, qual o objetivo de se inscrever num concurso literário e o papel dos blogs na divulgação de textos literários.
Conclusões? Muitas, mesmo - quem quiser continuar, por favor poste comentários aqui.
E ainda não terminou, por incrível que possa parecer!
Começamos a olhar para alguns sites onde se pode "pescar" informações confiáveis sobre literatura brasileira, portuguesa e africana de língua portuguesa.
A nossa primeira navegação foi por "Autores Africanos - do Rovuma ao Maputo" em http://pintopc.home.cern.ch/pintopc/www/Africa/Africa.html, um bom ponto de partida para começar a conhecer os autores africanos de língua portuguesa.
Agora terminou! Torcendo pela volta do Alexandre hoje para a gente blogar mais!
Susanna

Terceira aula

Foi uma aula super interessante. A gente conversou on line, por msn com o Victor Mateus, que ficou acordado para conversar conosco (com quatro horas de fuso horário, ele começou a falar conosco perto de meia noite). Eu adorei a conversa - e vocês? Durante o papo voltamos a navegar o por "A dispersa palavra" e vimos poetas e poemas que o Victor indicava.

A turma nessa noite era composta por Angela, Graça, Paulo, Paulo Neuman, Adrebal e Márcia.
Eu achei uma delícia.

Depois, de quebra, visitamos o blog "Biografia do Deserto", do Alexandre ( e vamos comentá-lo na quinta aula!). Está em
http://www.biografiadodeserto.blogspot.com/

Discutimos autoria na era digital, ficamos ler artigo da Revista E para a quarta aula.

Finalizamos visitando o blog da poeta e compositora Socorro Lira. Está em

www.socorrolirapoesia.blogspot.com/

Susana

Segunda aula no SESC Pinheiros

Começamos, passo a passo a construir blogs individuais ( o meu ainda está feinho, amarelinho, cor sem sal nem açúcar, já o da Graça ficou lindo, rosa. Paulo e Adrebal foram no clássico: preto. Quem mais? Completem para mim, tá?)
Depois de rechear os blogs com imagens e comentários visitamos o lindo blog do poeta e professor Victor Mateus, português, em
adispersapalavra.blogspot.com

(se eu esqueci de algum outro blog visitado conto com o Paulo para me dizer, ok?)

Primeira aula - o que fizemos

Na primeira aula do curso Blogs Literários do SESC Pinheiros, fizemos o seguinte:
Traçamos um histórico do blog, desde seu surgimento em 1997, como uma lista de sites interessantes que o internauta compartilhava.
Páginas visitadas:
Primeiro blog da História - de Jorn Barger em

http://www.robotwisdom.com/


Alguns blogs de escritores:
1) Ivana Arruda Leite - escritora brasileira (paulista), em

www.doidivana.wordpress.com


2) Graça Pires - poeta portuguesa, em

http://www.ortografiadoolhar.blogspot.com/

3) Fabrício Carpinejar - poeta e cronista brasileiro (gaúcho), em

http://carpinejar.blogger.com.br/

Após visitarmos blogs de escritores, como exercício, fomos a dois blogs de celebridades - para comparar:

Blog da Luana Piovani
Blog da Ivete Sangalo

Discutimos as diferenças entre as propostas dos escritores e das celebridades.Alguém da turma quer postar sua opinião aqui??? Só para a gente relembrar?

Susana

terça-feira, 22 de julho de 2008

O professor Alexandre Bonafim


Alunos do curso Blogs literários - Sesc Pinheiros - julho de 2008


A Ângela - professora e o Adrebal - fotógrafo

Alunos do curso Blogs literários - Sesc Pinheiros - julho de 2008


Esta é a Márcia Accioly, especialista em cultura popular, jornalista e assessora de imprensa. A Márcia construiu o seu blog neste final de semana!

O aluno Paulo: músico e admirador da nossa língua portuguesa


ONDE NINGUÉM NOS ENCONTRA: crônica de Fabrício Carpinejar


Fabrício Carpinejar


Conhecemos, no nosso curso, o blog do escritor Fabrício Carpinejar

Esconde-esconde tinha sido criado para espíritos corajosos. Expedições ansiosas pela noite, com os soluços da coruja e os movimentos recônditos dos bichos nos galhos. Mexer num arbusto poderia render os olhos estatelados de um guaxinim e a pontada cardíaca pelo imprevisto. Aos sete anos, minha mãe era sempre escalada pelas mais velhas a contar na figueira. Sofria a síndrome de ser a caçula do grupo. O bode expiatório. Parecia que pulava corda ao andar, devido às tranças longas até a cintura. As colegas se divertiam com sua demora em encontrá-las. A brincadeira não acontecia dentro de casa, na previsibilidade de armários e camas, que apressaria encontros e gemidos da descoberta, mas no longo quintal, quilômetros entre árvores, riacho e rochas. Minha mãe estava cansada naquela tardezinha. As meninas dispararam para seus esconderijos, transbordando algazarra. Maria iniciou a contagem e desistiu. Suspirou "pronto" para ir embora, enfim exausta dos desmandos, não "pronto" para caçar suas amigas. Ficaram horas sem se mexer, prendendo a respiração, encalacradas em desvãos, estátuas de cera intuindo que Mariazinha contraía dificuldades para localizá-las, que dessa vez seria o mais longo esconde-esconde da infância e uma gozação interminável de sua lerdeza. Quem saiu a procurá-las foram os pais, com lanternas e matilha de cães, assustados com a falta de notícias e o tardar da lua. Uma procissão incessante de apelos. Todas ficaram de castigo. Algumas apanharam de cinto pela pior desobediência que uma criança poderia impor aos seus pais no interior: a de não regressar para a residência antes das 22h. Menos Mariazinha que já estava dormindo tranqüila em sua cama, alheia aos efeitos de sua ausência. Foi sua vingança. Ela se escondeu melhor do que os outros. Esconderijo perfeito é não se ocultar.

Poema de Alexandre Bonafim

Em nossas aulas, conhecemos o Blog Biografia do deserto. Nesse blog, pudemos ler poemas que, incialmente publicados no blog, trasformaram-se, depois, em livro.


LIBERDADE LIVRE
Alexandre Bonafim

(um dos cavalos amarelos de Franz Marc)
a António Ramos Rosa

Por entre carrose buzinas
cortando a fumaça
das fábricas
cavalgando
sobre o lixo
do asfalto
súbita magia
desatou suas crinas:
um cavalo a correr
um cavalo amarelo
desenhado pelas mãos
de um menino
esculpido pelo cinzel
dos ventos
um cavalo livre
desatado de celas
e esporas
envolvido por nuvens
e brisas
súbito
explodiu a vida
arrebentou o coração
da cidade
na plena agitação
do trânsito.
As crianças que dormiam
as viúvas que choravam
as andorinhas que voavam
repentinamente
foram tomadas pela alegria:
um cavalo amarelo
um cavalo a correr
desatou súbita magia
nas crinas do vento
nas pedras do mundo.



Alunos do curso Blogs literários - Sesc Pinheiros - julho de 2008


Uma crônica de Ivana Arruda Leite



Ivana Arruda Leite

PARA TODO TIPO DE MULHER



Ivana Arruda Leite


“Um sabonete feito para todo tipo de mulher”. Olho com atenção os tipos apresentados no anúncio da TV e percebo que não me encaixo em nenhum. Limpei as lentes dos óculos. Talvez estivessem embaçadas. Procurei de novo e nada. Se eles dizem que a sebosa maravilha é para todo tipo de mulher, cadê eu? Cadê o meu tipo? Demora uns segundos pra cair a ficha. Tolinha. Na minha santa ingenuidade pensei que quando os anunciantes diziam “todo tipo de mulher” estavam se referindo a todo tipo de mulher mesmo. Mas não. Eles estão pensando apenas nas mulheres bonitas. Sejam elas gordinhas, magrinhas; na faixa dos 30, 40, 50 ou 60; loiras, morenas, ruivas, grisalhas; negras, mulatas, japonesas. Mas todas lindas. As feias estão excluídas do todo tipo de mulher. Para os vendedores de sabonete, a beleza é o requisito básico para ser incluída na categoria Mulher. As demais que se lavem com um sabão qualquer, de cinza, caseiro, baratinho, vagabundo. Ou simplesmente não se lavem. Pra que que mulher feia precisa tomar banho? Pra quem a feiúra precisa se limpar?"

Doidivana: uma crônica de Ivana Arruda Leite

Em nosso curso, tivemos a oportunidade de conhecer o Blog Doidivana da escritora Ivana Arruda Leite.


Ivana Arruda Leite

QUER ME VER?

Ivana Arruda Leite

Outro dia eu estava na casa de um amigo quando tocou o celular. A pessoa do outro lado, voz masculina, antes mesmo de dizer olá, boa tarde, como tem passado?, tascou uma pergunta à queima-roupa: “Quer me ver?”. Assim, sem a menor delicadeza nem educação. Aquilo certamente não era um convite. Estava mais pra intimação policial. Reconheci a voz. Era um sujeito com quem eu havia saído duas vezes e desapareceu depois do segundo encontro. Pois não é que depois de quase um ano de sumiço, o cara tem a cara de pau de invadir meu domingo maravilhoso e tentar estragá-lo?Respondi civilizadamente: “estou na casa de um amigo, me liga amanhã. Tudo bem com você?”. Mas quem disse que ele me ouvia? Ficava repetindo feito um papagaio: “quer me ver?”. Alto lá! As coisas não são bem assim.O cowboy abre a porta, pára no meio do saloon, olha pra mocinha, saca o revólver da cartucheira e faz um sinal com a cabeça: come on, baby. Onde estamos?Pense comigo. Quem ligou pra quem? Foi ele, não foi? Portanto, ele é o sujeito da oração, logo, o correto seria dizer: “eu quero te ver”. Mas não, ele preferiu jogar rapidinho o abacaxi no meu colo.Sou capaz de ver a cena: domingo à tarde, o cara com uma cerveja ao lado, sozinho em casa, vendo televisão, por que não?. O que ela teria de melhor pra fazer numa tarde de domingo do que vir correndo ao meu encontro? É muita pretensão, fala a verdade.E a história não terminou. Às 9 da noite, ele ligou de novo. “Você ainda está na rua? Quer me ver?”. Aí eu perdi a paciência e desliguei na cara dele. Cá entre nós, eu não iria ao seu encontro nem se ele me pedisse na maior fineza. O rapaz não tinha deixado boas recordações. E não é que ele conseguiu piorar ainda mais uma história que já era ruim? Tem gente que tem esse talento.

O lago em Caieiras - Olga Savary

Tivemos a oportunidade de conhecer, no Blog do Victor Oliveira Mateus, a poesia de Olga Savary.



A Jack Dubbel


O lago ocultou um corpo livre
em abraço oco
como faca cortando espelhos.
Veio a vontade de ser esse lago
esse lago lago, que se permitia
magoar desejo há muito aprisionado.
Alguma coisa cresceu dentro de mim,
me fez virar o rosto para o outro lado.
Queria ser esse lago lago lago
– só isto –
debaixo do céu inutilmente azul
por ninguém se importar com ele
porque essa foi a mais selvagem,
a mais bela coisa que já vi.

Susana Ventura: professora no projeto Blogs literários do Sesc Pinheiros


Alunos do curso Blogs literários - Sesc Pinheiros - julho de 2008


Poema de Graça Pires

Tivemos a oportunidade de ler, em nosso curso, o blog Ortografia do olhar da poeta portuguesa Graça Pires. A escrita da Graça, repleta de cintilantes metáforas, é um percuso de epifanias e plenitudes.
artista desconhecido

Graça Pires
Tu, que vieste sem eu te procurar, vem comigo.
Se souberes de cor a cor do vento
e quiseres decifrar, nas minhas mãos,
os gestos sem memória, vem comigo.
Como um recado quero explicar-te
por que motivo trago dentro de mim
uma longa praia, às vezes deserta,
outras vezes sufocada de gente.
É em mim que as ondas se quebram
quando o mar, intranquilo,
penetra o sossego das dunas.
É em mim que ecoam os gritos fúnebres
das mulheres, sempre que os barcos não regressam.
É em mim que nascem os lenços brancos do adeus.
É em mim que os búzios ressoam os segredos das marés.
É em mim.
Depois, a areia aquece as veias
e a respiração de quem chora amores impossíveis
e o corpo é um sacrário sem liturgia
a renegar o seu próprio destino.
Por isso, a surpresa de olhar-te.
Contigo permanece a alegria do riso,
branco de açucenas e de luar,
como uma festa de nascer.
Mas repara em nós : que brilho é este
que nos brinca nos olhos como se fossem lágrimas?



Graça Pires

Alexandre e alunos

Alexandre Bonafim (de costas, o primeiro da esquerda para direita) e alunos do curso Blogs literários - Sesc Pinheiros - São Paulo - julho de 2008

A bailarina vermelha

Degas


A bailarina vermelha

Judith Teixeira

Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir...

Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca - romã luzente,
a refulgir!...

As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida...
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!...

Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis...
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris...

Um jeito mais quebrado no andar...

Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás...

E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!...
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas... desgrenhadas!...

Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor...

E nos seus braços endoidecem
as anilhas d'oiro refulgindo
num feérico clamor!...

E ela passa...

Fulva, esguia, incoerente...
Flor de vício
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!...
Como uma brasa ardente,
enfernal e dolorosa,
... a bailar...

a bailar!...

Noite
1925



Judith Teixeira

CONVERSA COM VICTOR OLIVEIRA MATEUS

Tivemos a alegria, em uma das aulas de nosso curso, de travar contato, pelo msn, com o poeta Victor Oliveira Mateus. Pelas mãos de Alexandre Bonafim, porta-voz dos alunos, os integrantes do curso tiveram a oportunidade de fazer algumas perguntas para esse importante blogueiro de Portugal.
Victor Oliveira Mateus


Alexandre Bonafim escreve:
Victor, com qual intuito você criou o seu blog?

Victor escreve:
Ao criar o meu blog A dispersa palavra, eu tinha como intuito abrir um espaço de divulgação da poesia de língua portuguesa. Há, portanto, nomes tanto de Portugal e de Brasil pouco divulgados. Dessa forma, o blog torna-se importante ferramenta de divulgação da literatura desses dois países.

Alexandre Bonafim escreve:
Victor, por que a poesia brasileira é pouco conhecida em Portugal?

Victor escreve:
Realmente isso acontece. Com exceção de Vinícius de Moraes, Portugal não conhece a escrita do Brasil moderno e atual. Abriu-se um verdadeiro abismo entre nosso país e o Brasil. Isso é uma pena. Não se conhece, por aqui, por exemplo, a escrita tão bela do Manoel de Barros. Nem mesmo Drummond, um poeta fundamental, tem grande acolhida por aqui. Eis, portanto, a importância dos blogs: eles possibilitam uma maior circulação da poesia brasileira em Portugal.


Vinícius de Moraes
Alexandre Bonafim escreve:
Victor, qual é o grande poeta brasileiro lido em Portugal?

Victor escreve:
Aqui fala-se, mas não com muito freqüência, da Adélia Prado e do Ivan Junqueira. Todavia, como já afirmei, a grande voz brasileira em Portugal é Vinícius de Moraes.

Alexandre Bonafim escreve:
Pelo seu blog, tive a oportunidade de conhecer alguns escritores fascinantes, tais como Judith Teixeira e Raul de Carvalho. Diga-nos algo sobre a Judith, por exemplo.

Victor escreve:
A Judith, infelizmente, não teve o reconhecimento devido. Primeiro por ter sido contemporânea de uma outra grande poeta, a Florbela Espanca. A voz de Florbela, de certa froma, embotou o brilho de Judith. Todavia, ela é uma poeta de voz muito marcante e de grande expressão lírica.

Judith Teixeira
Alexandre Bonafim escreve:
Victor, mas que jóia! Veja a importância do Blog! Por ele, podemos resgatar grandes poetas esquecidos, podemos fazer importantes avaliações e pesquisas no campo das artes. Parabéns pela bela inciativa!

Victor escreve:
Muito obrigado!



Graça Pires e Victor Oliveira Mateus

Graça Pires e Victor Oliveira Mateus: poetas portugueses

Em nosso curso, visitamos os blogs de dois importantes poetas portugueses: Graça Pires e Victor Oliveira Mateus. Tivemos a alegria de conhecer a escrita rutilante desses dois grandes poetas.

Victor Oliveira Mateus

Fotógrafo desconhecido


Poema de Victor Oliveira Mateus:
Quantas vezes me deixei ficar,
como hoje, de caneta em riste,
sentado a esta mesma mesa
esperando que tu ou o texto viessem...
.
Quantas vezes, em vão, lançava
o olhar sobre o porto, tentando
adivinhar-te no bojo
de um qualquer barco que divisava
.
ao longe, como quem investiga
de falhas a mais nítida presença.
E quantas, no meio do tilintar
das chávenas e do bulício do balcão,
.
as tuas palavras acabavam sempre
por me aquietar. No entanto, sei-me
de sina igual a hoje: o constante medo
de que um dia possas não vir
.
e que o futuro mais não seja
do que a inquirição dos dias,
onde os versos se firmam
como escolhos à deriva
em simples guardanapos de papel.
.
.
Victor Oliveira Mateus

Adrebal e Paulo

Adrebal e Paulo - participantes do curso Blogs literários do Sesc Pinheiros, São Paulo - julho 2008

Alexandre e Graça

Alexandre Bonafim e Graça, em uma das aulas do Sesc Pinheiros - oficina Blogs literários

Rodin e Cecília


Nas aulas do curso Blogs literários do Sesc Pinheiros (julho de 2008), os professores Alexandre Bonafim e Susana Ventura pediram para os alunos criarem um blog. Como primeira postagem, os participantes do curso escolheram um poema de Cecília Meireles e uma imagem de Rodin como primeira postagem de seus blogs. Essa experiência foi muito jóia. Pelas belas imagens de Rodin pudemos sentir, com vigor e intensidade, a palavra mágica da autora de Mar absoluto.








Canção

Rodin

Canção

Cecília Meireles

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.