quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tatiana Belinky!

Olá! Conforme o prometido, este é um roteiro para acompanharmos a obra de Tatiana Belinky. Vimos que Tatiana tem sido múltipla: adaptadora de Lobato para teatro e TV, contadora de histórias, memorialista, cronista, tradutora, poeta... No sábado, uma série de papeizinhos com citações das obras - e que chamamos de “tatianices”- nos levaram por um caminho de aproximação ao universo de Tatiana Belinky. A partir da leitura coletiva, construímos conversa e conhecimento. Fomos depois, em conjunto, ver a exposição. O material elaborado pelo SESC propõe um roteiro por vários livros de Tatiana Belinky. No encontro que tivemos, as citações foram:

“Talita tinha a mania de dar nomes de gente aos objetos da casa, e tinham de ser nomes que rimassem. Assim, por exemplo, a mesa era para Talita, Dona Teresa, a poltrona era Vó Gordona, o armário era o Doutor Mário. A escada era Dona Ada, a escrivaninha era Tia Sinhazinha, a lavadora era Prima Dora, e assim por diante.
Os pais de Talita achavam graça e topavam a brincadeira. Então, podiam-se ouvir conversas do tipo:
- Filhinha, quer trazer o jornal que está em cima da Tia Sinhazinha!
- É pra já, papai. Espere sentado na Vó Gordona, que eu vou num pé e volto noutro.
Ou então:
- Que amolação, Prima Dora está entupida, não lava nada! Precisa chamar o mecânico.
- Ainda bem que tem roupa limpa dentro do Doutor Mário, né, mamãe?
E todos riam.
Mas uma tarde, Talita estava na sala com a mamãe, assistindo televisão, quando tocou a campainha. Talita correu e foi logo abrindo a porta, sem antes verificar quem era. E não é que eram dois ladrões armados?! Os mal-encarados sujeitos empurraram Talita e foram entrando, de armas apontadas:
- ISTO É UM ASSALTO! ENTREGUE O DINHEIRO E AS JOIAS, MADAME, E NEM UM PIO, ESTÁ OUVINDO?!”
Belinky, Tatiana. A operação do Tio Onofre: uma história policial. São Paulo: Ática, 1985

“Os limeriques são historinhas
contadas em só cinco linhas
ritmadas, ligeiras,
com rimas brejeiras:
histórias bem maluquinhas.”
Belinky, Tatiana. Limeriques. São Paulo: FTD, 1987.

“Limerique sempre achei engraçado. É a forma de versinho de cinco estrofes. Primeira, segunda e quinta com nove sílabas, rimando. Terceira e quarta curtas, rimando. E dava o ritmo saltitante. Conheci o limerique do inglês. Para falar a verdade, do playboy americano. Eles faziam limerique toda hora, novos, inventados, e do famoso Edward Lear, inglês. E os tais limeriques americanos eram sempre meio safadinhos, não eram infantis, propriamente. Mas esse tipo de verso se presta para fazer alguma coisa saltitante, leve e engraçada. Disse: "Vou tentar". Tentei, consegui. E aí tenho muitos limeriques. Chamei de limerix em português, e tenho muitos e muitos livros em limerique. É engraçado. Todo mundo conhece limerique por minha causa, mas não fui eu que inventei. É uma coisa inglesa, irlandesa até, acho. Fiz conforme o assunto, são os lix de cada coisa. Tem o Mandalix, o Bregalix, Cacolix. E um publicado com os meus limeriques acumulados, chamou o livro de O Livro dos Disparates Limeriques da Tatiana. Assim se chama o livro. Lá estão os Mandalix, os Bregalix, os Cacolix. Mandalix não. É da Editora 34. Manda para o diabo que os carregue. As crianças adoram. Manda tomar banho, catar bolinho, essas coisas que todo mundo sabe.”
Entrevista concedida a José Santos, do Museu da Pessoa. Parte dela está no livro Memórias da literatura infantil e juvenil: trajetórias de leitura. Acessado em 15 de junho de 2011 no site: http://www.museudapessoa.net/mdl/memoriasDaLiteratura/entrevista.cfm?autor_id=41


“No entanto, o que me impressionou mesmo, quase me assustou, ninguém pode imaginar. Foi um... não riam! Um cacho de bananas! Isso mesmo: um grande cacho de bananas, mais alto que eu, parado muito tranquilo lá no cais, como que zombando do meu espanto ao ver aquela fartura, aquele despropósito de bananas! Eu, eu só tinha visto uma banana de cada vez, uma ou duas vezes por ano, e que a repartia cuidadosamente com o meu irmão, e que imaginava que aquela fruta maravilhosa crescia em altas e esguias palmeiras tropicais, uma em cada galho, no máximo!... o que eu nunca podia imaginar é que essa preciosidade viesse naqueles cachos enormes, com vários ‘pavimentos’ de pencas douradas, naquela quantidade inacreditável!”
Belinky, Tatiana. Transplante de menina. São Paulo: Moderna, 1989.


“Eram dez os sacizinhos; um ficou imóvel e nunca mais se moveu, e sobraram nove.
Eram nove os sacizinhos; um comeu biscoito, o biscoito estava velho e sobraram oito.
Eram oito os sacizinhos; um foi de charrete, a charrete emborcou e sobraram sete.
Eram sete os sacizinhos; um foi contra as leis então teve de fugir, e sobraram seis.
Eram seis os sacizinhos; um colocou um brinco, era um brinco enferrujado, e sobraram cinco.
Eram cinco os sacizinhos; um foi ao teatro. O teatro pegou fogo. E sobraram quatro.
Eram quatro os sacizinhos; um foi pro xadrez e não conseguiu safar-se, e sobraram três.
Eram três os sacizinhos; um comeu arroz. O arroz era mofado e sobraram dois.
Eram dois os sacizinhos; um ficou em jejum, o jejum foi demasiado, e sobrou só um.
Sobrou um só sacizinho; comeu urucum, urucum não é comida, e não sobrou nenhum.
Mas de volta os trouxe a Cuca, todos de uma vez, e agora os sacizinhos, outra vez são dez!
Eram dez os sacizinhos”.
Belinky, Tatiana. Dez sacizinhos. São Paulo: Paulinas, 1999


“Monteiro Lobato foi a minha primeira paixão literária brasileira. As aventuras da turma do Sítio do Pica-Pau amarelo me empolgaram assim que comecei a ler em português, pouco depois de chegar ao Brasil, aos dez anos de idade. Eu já tinha lido muitos livros para crianças, em russo e em alemão, de autores importantes – mas Monteiro Lobato foi um impacto todo especial.
Era diferente de tudo o que eu conhecia – e virei fã dele para todo o sempre, desde a criança que eu era quando aportei por aqui até hoje, mais de setenta anos depois. (Mal sabia eu, menina e adolescente, que um dia eu teria o privilégio de conhecer pessoalmente e até conversar cara a cara com esse magnífico escritor, grande e ilustre brasileiro).”
Belinky, Tatiana. “É nosso” In 17 é Tov. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2005


“Naquela região, no vale do grande rio Reno, aconteceu um ano de “vacas magras: o verão e o outono foram chuvosos demais, os aguaceiros inundaram os campos, as pastagens e as plantações, que ficaram afogadas e alagadas. O trigo, que era o produto e alimento principal do povo camponês, não conseguiu amadurecer e ficou perdido.
E a miséria instalou-se em toda a região menos nos domínios do homem mais importante da província: o poderoso e rico bispo Hakkon, cujos enormes silos e armazéns estavam abarrotados de trigo e de outras ricas provisões. Isto porque o bispo, homem previdente, providenciara que fosse guardado e armazenado todo o grande excesso da farta colheita dos anos anteriores, nas terras de sua propriedade.”
Belinky, Tatiana. A torre do Reno. São Paulo: Global, 2006.


“Vamos fazer uma pausa
Para pensarmos direito:
Não há efeito sem causa
Nem há causa sem efeito

Então, lá vai:
Com forte estrondo, um grande galho
Partiu-se no velho carvalho.
Efeito do aflito
Obeso mosquito
Que se aboletou nesse galho!”
Belinky, Tatiana. Limeriques das causas e efeitos. São Paulo: Editora 34, 2008.



"Você sabe o que é Cocanha?
Cocanha é uma terra estranha,
País que se esconde
Ninguém sabe onde –
Lugar misterioso, a Cocanha.

A vida ali é um deleite
Suave tal qual puro azeite –
Na bela Cocanha
O povo se banha
Em rios de mel e de leite."
Belinky, Tatiana. Limeriques da Cocanha. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.


“A triste senhora barata
Achava que a vida era chata
Fez uma macumba
Dançou uma rumba
E virou uma gata gaiata.”
Belinky, Tatiana. Bicholiques. São Paulo: Biruta, 2006.



“Comecei a ler com quatro anos, no máximo. Sozinha. Lendo, lendo mesmo. Porque antes disso eu tinha uma estante no meu quarto desde sempre, desde que nasci. Aliás, hoje sou a vovó dos livros, e dou um livro já quando nasce. Meu primeiro presente é um livro, para a mamãe começar a estante. A vovó dos livros quer assim. Para mim não existia brinquedo melhor que livro, até hoje. Meus primeiros livros eram de poesia, poemas. Meu pai lia para mim, desde sempre. E os poemas que ele lia eram dos bons, não qualquer coisinha. Era Pushkin, era Goethe, coisas assim. Eles não escreviam para crianças, mas alguns poemas serviam. Até hoje me lembro de algumas poesias, alguns poemas saíram publicados aqui, os traduzi de cor, nem tinha o original. Tenho um livro chamado Di-versos russos, Di-versos alemães. E Di-versos hebraicos. Traduzi um poema do Goethe, do menino com febre. É famoso. Todo mundo traduziu, que nem o Corvo, do Allan Poe: todo mundo traduziu, em todas as línguas. Conhecia esse poema no original, em alemão, depois em russo, e depois em inglês. Em inglês foi curioso, conheci com aquela cantora negra americana... Não me lembro o nome. Quando ela esteve aqui, cantou esse. E cantou de um jeito tão dramático, tão forte, tive que sair da sala, comecei a chorar. E eu não era uma criancinha. Era uma moça. Fiquei emocionada com esse poema, me lembrava dele de cor, em alemão, no original de Goethe.
Há outros pequenos poemas dele que traduzi. Saiu um livro meu chamado Caldeirão de Poemas, pela Companhia das Letras. São poemas, alguns meus, de brincadeira, mas a maior parte traduzida do inglês, russo e alemão. Coisas para crianças mesmo. Cada poema com um ilustrador diferente. A Companhia das Letrinhas caprichou. As crianças gostam. Toda criança gosta de poesia, quem disse que não gosta? Gostam de rima, de ritmo, gostam do assunto, quando é interessante. Minha neta, que me deu um bisneto, quando era pequena, tinha sete anos, me disse: "Tati, livro que não dá pra rir não dá pra chorar, não dá pra ter medo, não tem graça". Eles querem emoção, não querem qualquer coisa. Mas gostam de história de terror. O que elas mais gostam é isso. É impressionante. Prefiro escrever coisas mais alegres, nonsense, disparates.”
Entrevista concedida a José Santos, do Museu da Pessoa. Parte dela está no livro Memórias da literatura infantil e juvenil: trajetórias de leitura. Acessado em 15 de junho de 2011 no site: http://www.museudapessoa.net/mdl/memoriasDaLiteratura/entrevista.cfm?autor_id=41



Maluca é a rua!
Quadrinhas populares russas
"A rua passava
Correndo na mão
Por trás do cachorro
Latiu o portão.
A rua assustada
Correu contramão.


Então o porteiro
Mordeu o portão
-Porteiro maluco! –
Gritou o portão.
- Maluca é a rua! -
Relincha o cão."
Belinky, Tatiana. Um caldeirão de poemas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.

Hora de falar
Lewis Carroll
"Chegou a hora de falar,
Disse Dom Caranguejo,
Das coisas: popa, papo, pão,
Borbulha, barba, beijo,
E por que ferve a água do mar,
E por que voa o queijo."
Belinky, Tatiana. Um caldeirão de poemas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.

Durante o caminho falamos de São Paulo, da vida de Tatiana na cidade, do modo como sua obra se insere na literatura para crianças e jovens produzida a partir da década de 1970. Resta agora, um desafio a vocês: voltarem à exposição e à biblioteca do SESC, olharem os vários títulos que compõem esta seleção e me dizerem qual a relação com a ilustração que cada um dos títulos tem?
Vamos ver quem cumpre o desafio?
Um abraço,
Susana