quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Roteiro para Jorge Amado e Capitães da Areia

Jorge Amado (Itabuna – BA – 1912/ Salvador – BA – 2001)
Dados biográficos:
- Nasce numa fazenda de cacau em Itabuna;
- Muda-se para Ilhéus com a família aos dois anos;
- Mau aluno, cedo prefere vida de aventuras;
- Interno em colégio em Salvador, foge aos 13 anos (em 1925) e percorre sozinho o sertão baiano rumo à casa do avô em Sergipe, onde permanece dois meses;
- Cedo entra para o jornalismo (15 anos);
- 1931 – Publica primeiro romance (O país do carnaval) – tem 19 anos. Começa o curso de Direito no Rio de Janeiro;
- 1933 – Casa-se pela primeira vez, com Matilde (veja dedicatória de Capitães da areia). Publica Cacau. Este é também o ano de publicação de Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre;
- Já é membro atuante do Partido Comunista Brasileiro;
- Em 1934 publica Suor. Forma-se em Direito em 1935 (sem nunca frequentar o curso);
- 1935, publica Jubiabá, 1936, publica Mar morto e é preso por acusação de participação na Intentona Comunista
- 1937, publica Capitães da areia. Ele tem 25 anos;
- Preso novamente a seguir da instauração do Estado Novo;
- Seus livros são queimados em praça pública em 1937;
Jorge fala sobre a queima de livros em entrevista concedida ao professor Álvaro Cardoso Gomes (USP):
“Em São Paulo, na Bahia, estava sendo queimado em praça pública. Em Salvador, tem até ata da queima...1.694 exemplares de meus romances queimados em praça pública por ordem do comando da 6a. Região Militar” (Gomes, 1988, p. 35)


Uma boa “chave” para entrar na obra de Jorge é atentarmos para o que diz Ana Maria Machado,no excelente Romântico, sedutor e anarquista. Como e por que ler Jorge amado hoje.(Rio de Janeiro: Editora Objetiva)
Sobre o heroi ou heroína em Jorge Amado:
“O herói de Jorge Amado é um homem ou mulher que diz não, um rebelde que não admite os mecanismos repressores da sociedade.”

Sobre Jorge Amado escrevendo na juventude...e depois:
“Na obra daquele menino que antes dos vinte anos começava a publicar seus romances, havia desde o início um ouvido atento e um olhar agudo, ao lado da solidariedade, sensível à dor do outro. Esses personagens que ele nos traz falam e se comportam igualzinho a nossa gente comum, como ninguém ainda tinha falado e se comportado em nossos romances. Provavelmente, tal feito ajuda a explicar a profunda empatia que ele logo estabelece com seu público, a cumplicidade que se tece de imediato entre autor, personagem e leitor. É uma façanha pioneira da linguagem, como poucos tinham conseguido antes. Com essa intensidade, talvez apenas Lobato.”

Ana Maria aponta fatores exógenos (fora da obra) e que impulsionaram o sucesso do autor:

Num primeiro momento:
- Propaganda do Partido Comunista no começo da carreira (“reforço nacional e internacional da [...] máquina de promoção do partido comunista para traduzi-los e elogiá-los”);
- Pelo exílio (a partir de 1948): proximidade com intelectuais europeus de grande representatividade – Pablo Picasso, Paul Éluard, Pablo Neruda, etc.
Mais tarde:
- “Apogeu midiático da Baianidade” – venda de direitos para TV e cinema;
- Celebridade – “alguém que vai ficando mais famoso pelo simples fato de já ser famoso.

Porém, só isso não seria determinante para todos os anos de vendagem de livros – num país onde predominava o analfabetismo (Ana Maria nos lembra que Amado nasceu em 1912 e que começa a publicar romances aos 19 anos, em 1931!)

Jorge Amado atingiu e manteve popularidade como escritor numa sociedade predominantemente analfabeta, que ele ajudou a formar como leitora. E nisto, Jorge esteve em boa companhia: Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Vinícius de Moraes eram na época bons escritores formando público-leitor num período pré-empresarial.

Há muito preconceito em torno de Jorge Amado – porque foi comunista, porque deixou de ser comunista, porque fez sucesso, porque, a partir da década de 1980 se aproximou de políticos de direita, porque vendeu direitos de adaptação para cinema e televisão, porque ganhava dinheiro...Ufa!

Nesses casos, o melhor é LER A OBRA. Vamos então a Capitães da areia?

Susana

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Romance social de 30

Olá a todos,
Então, no prosseguimento da nossa visita ao acervo pedido nos exames vestibulares chega a hora de falarmos sobre o romance de 1930, dentro do "realismo social".
Antes, porém, vejamos o que acontecia no Brasil e no mundo no início da década de 1930.

- Crise Mundial (crack da Bolsa de NY em 1929, queda dos preços do café);

- Produção agrícola sem mercado, ruína de fazendeiros e desemprego nas cidades;

- Brasil investe na industrialização.

Especificamente no Brasil, entre 1934 e 1937:

- 1934 – reivindicações operárias, greves, campanhas anti-fascistas;

- 1935 – Lei de Segurança Nacional – repressão movimentos sociais;

- "Fantasma do comunismo internacional"

- Aumenta autoritarismo – órgãos de repressão (recomendamos uma visita à Estaçao Pinacoteca, em São Paulo).

- 10 de novembro de 1937 – Início do Estado Novo por Golpe de Estado;

- Dissolução do Congresso Nacional;

- Polarização entre Fascismo e Comunismo.


É neste panorama que surge o que ficaria conhecido como "Realismo social de 1930":

- Literatura engajada;

- Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos;

- Em geral: “Brasil rural, vivendo situações típicas de um país atrasado”, segundo o professor Álvaro Cardoso Gomes (USP).

Com uma grande quantidade de romances, o realismo social teve como temas centrais:
- Relações arcaicas de trabalho;

- A seca e o drama dos retirantes;

- O drama dos operários e o mundo as greves;

- A decadência das estruturas feudais;

- Os desmandos dos poderosos.

Neste enquadramento estão "Capitães da areia", de Jorge Amado (1937) e "Vidas secas", de Graciliano Ramos (1938).

Susana

domingo, 5 de setembro de 2010

Dom Casmurro - lembretes...

Olá a todos,

Lembro, então, as três principais linhas de leitura desde a publicação do livro:

No passado até década de 1960:
a história de uma dupla traição narrada pelo marido traído.

A partir da década de 1960:
romance de uma suspeita.

Leitura contemporânea (Roberto Schwarz; Luiz Roncari):
Bento Santiago não é um narrador confiável e seu romance é um libelo acusatório.

Em frente... sem mais reticências!
Volto à "cena" em que Bentinho "desesperado" janta e vai ao teatro ver..."Otelo" (vamos a trecho e comentário, ok?):

"Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço —um simples lenço!— e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderam-se. Hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há e valem só as camisas.
Tais eram as idéias que me iam passando pela cabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iago destilava a sua calúnia.
Nos intervalos não me levantava da cadeira - não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhoras ficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar. Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teria amado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outras incoerências, até que o pano subia
e continuava a peça. O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.
— E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo;— que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro?Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção..."

Bom, conforme vimos conversando...veja bem, não é?
a) pouco usual um homem culto de final do Século XIX não ter lido nem visto representada em Teatro o "Otelo".
b) ele está péssimo, mas janta e vai ao teatro? precisava dar a receita... tudo bem, já entendi, tem gente assim, mesmo. Mas, que tipo mesmo de pessoa?
c)o último ato "mostra" a ele que Capitu deve morrer - uma pessoa com discernimento e sensatez, ademais um homem de cultura, sabe que há a necessidade de distanciamento entre o que você vê representado e a sua vida. Não é como esses desavisados que, ainda hoje, levados pela emoção, andam aí a emboscar malvados de telenovela distribuindo bordoadas (nem preciso falar nisso, está todos o dias na internet - ator ou atriz que faz papel de malvado(a) a levar desde guarda-chuvadas até tapas).
d)o público em sua narrativa - elaborada muitos anos depois do ocorrido e que portanto deveria usufruir da serenidade da maturidade - aplaude não o trabalho dos atores mas a cena em si, a morte (injusta) imposta a Desdêmona por Otelo!

E então, dá panos para as mangas, hem?

Final do livro:

“O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente.” (Dom Casmurro).

E alguns questionamentos:

1) Todo o mundo que já sofreu decepções com pessoas que pensava conhecer e com as quais conviveu longo tempo pode ter esse tipo de reflexão;

2) E D. Casmurro, será que aquele cara que - parece que concordamos - é no mínimo problemático, já estava lá, dentro do Bentinho inocentinho que pensava em pedir ajuda a D. Pedro II para não ir ao seminário? Ou aquele anjinho (ladeado por uma menina bem mais prática e "esperta") é uma criação do rancoroso D. Casmurro?

Por fim, vamos ao início do romance - D. Casmurro nos diz lá no início da narrativa para não procurar "casmurro" em dicionário - pois o seu apelido é dado no sentido que conferiu o "vulgo" de indivíduo "calado e metido consigo".
Então vamos fazer o que disse para não fazer, certo?
Casmurro - dicionário Houaiss:

n adjetivo e substantivo masculino
1 diz-se de ou indivíduo teimoso, obstinado, cabeçudo
2 diz-se de ou indivíduo fechado em si mesmo; ensimesmado, sorumbático

Pois bem, a segunda acepção é mesmo a que ele diz, mas e a primeira? Teimoso, obstinado, cabeçudo?
O que se pode fazer com essa informação? Ler...Hummm!
Aguardo postagens!
Abraço
Susana

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"Dom Casmurro" - links

Olá pessoal!
Vamos ver os vídeos relacionados a "Dom Casmurro".
Abraço
Susana


Tony Ramos dizendo o começo de Dom Casmurro
http://www.youtube.com/watch?v=Qsttmsrlz6c

Capitu, personagem da novela Laços de Família

http://www.youtube.com/watch?v=_ZC58weCFso&feature=related

Interpretação da Canção Capitu, de Luiz Tatit, por Zélia Duncan
http://www.youtube.com/watch?v=NAeJv8LAX28&feature=PlayList&p=3B3428415EB6A4BE&playnext=1&playnext_from=PL&index=101